quarta-feira, 23 de novembro de 2011

PÁTIOS VAZIOS: OPINIÃO - MICHEL CURY

PÁTIOS VAZIOS
Opinião de Michel Cury, texto do Jornal Diário da Franca
política esportiva brasileira é totalmente distorcida. É e sempre foi no ponto de vista do aproveitamento educacional de nossas crianças e adolescentes através da prática esportiva.
Não se pode confundir esporte de alta-performance com a prática esportiva, pois são situações distintas e devem ser avaliadas e compostas num só objetivo, que é o tripé esporte-social-educacional.
As participações em eventos internacionais deveriam servir de chamariz para atrair e envolver essas crianças à prática esportiva. Mas para isso o governo teria que ter vontade política para massificar o esporte no Brasil.
Num país onde as crianças não têm acesso a bola, piscinas, quadras, pistas entre outras atividades à sua disposição, com certeza cifras astronômicas serão gastas para viabilizar a construção de complexos esportivos e campos de futebol destinados à Copa do Mundo e Olimpíadas.
Frequentemente somos bombardeados com esses altos investimentos que serão pagos pelos cofres públicos para a realização desses eventos, sendo que o esporte social, que é o início de tudo, continua desamparado.
Fica a pergunta: “Como a administração pública vai utilizar essas dependências pós eventos, a ponto de fazer jus ao que foi investido?”
Material humano temos para isso, principalmente para a prática esportiva sem o compromisso da competição. Se as milhares de nossas crianças tiverem a oportunidade de se educarem esportivamente, com toda a certeza vão surgir milhares de atletas com potencial para serem transferidos para as competições e eventos de representatividade. Aí sim se justificaria tamanho investimento. Hoje em dia, prioriza-se somente a busca desenfreada e a qualquer custo de medalhas. Ora, se não há base, óbvio que não vamos obter as vitórias tão esperadas.
O esporte de alta performance é temporário (para cada evento) e envolve um número mínimo de pessoas da sociedade. São atletas condicionados à prática de determinada modalidade, que requer talento técnico e físico para a execução desses esportes. Cabe ressaltar que essas qualidades não são encontradas em todas as pessoas. E enquanto isso, milhões de crianças continuam distantes desses serviços que o governo tem a obrigação de oferecer.
Temos informações de que uma quantidade expressiva de educadores físicos, assim que se graduam, não exercem a profissão por falta de espaço para tal. Vamos reconhecer que a iniciativa privada, de uns tempo para cá, absorveu grande parcela desses profissionais como academias de ginástica, personals trainning, condomínios com áreas de lazer, empresas que adotam a ginástica laboral, entre outros.
Mas a maior necessidade mesmo vem das escolas de nível fundamental do setor público, aonde em algumas regiões do país a Educação Física escolar não é obrigatória. Isso é um absurdo!
Que legado é esse que tanto fazem questão de falar que eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas vão deixar para o povo brasileiro? É preciso mudar radicalmente o conceito da administração esportiva no país para engajar de vez nossas crianças numa sociedade justa, de oportunidades e de um futuro promissor. Sabemos que o esporte é um dos maiores responsáveis para a formação do caráter, da disciplina, da superação, da saúde e do envolvimento social.
Concluindo, estamos diante de um quadro paradoxo que se resume no seguinte: CRIANÇAS NAS RUAS - PATIOS VAZIOS - EDUCADORES FÍSICOS DESEMPREGADOS. Pode?

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Michel Zamorano Cury é fisioterapeuta e educador físico.

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